terça-feira, 28 de julho de 2009

Luto;

Nasceu do nada, não se sabe ao certo o porquê. Cresceu com o tempo, como todos, afinal, assim havia de ser. Sozinha sonhava chorosamente com a vida que não teria, e confusa não sabia exatamente se queria ter. Mas como havia de acontecer, morreu tardiamente. Poucos choraram sua morte. Pobre esperança perdida! Antes tivesse servido em vida a um amor mais forte... que o meu.

"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. " [ Clarice Lispector ]

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estátua viva;

A vida lhe endureceu o corpo, este já não se movimentava como antes nem ardia de desejo. A vida lhe endureceu a face, esta já não mais sorria nem denotava tristeza. A vida lhe endureceu os olhos, que um dia, cansados de mirar sempre o mesmo ponto, passaram a olhar lugar nenhum e se perderam. Lhe endureceu o coração e este deixou de apertar, mas não mais batia. Endureceu porque doía. Até lhe endurecer a dor, que ficou presa entre os lábios duros e cerrados, lhe impedindo o último grito de "volte".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

(a dois) passos;

- Acordei sem sentir meus pés hoje e a culpa é sua.
Pegou o telefone, discou o número do celular dele e falou com convicção assustadora de tal fato sem sentido. Não se viam desde o momento em que ela decidira que ele não era a melhor opção para sua vida, porque ela o ligara para culpá-lo de tamanho absurdo? O rapaz indagou o motivo daquela insanidade de forma um tanto indelicada, afinal, nem mesmo Hey Jude dos Beatles, que tinha como toque do celular, o faria acordar aquela hora com um humor tolerável. Ela não soube respondê-lo, não porque não tivesse uma explicação plausível, mas porque a voz dele fez seus pés magicamente formigarem. Desligou o telefone e não atendeu as insistentes chamadas seguintes, envergonhada. Tudo em seu corpo doía contraído por uma saudade gélida, mas seus pés haviam sumido de novo. Não conseguia se pôr de pé, havia um vazio abaixo de si e sentia como se fosse cair dentro dele caso tentasse andar. Quando fechou os olhos teve a impressão ainda maior de que o chão sumira. Era aquilo, sem pés o chão não fazia sentido, assim como não fazia sentido o chão sem os pés.