quarta-feira, 15 de julho de 2009

(a dois) passos;

- Acordei sem sentir meus pés hoje e a culpa é sua.
Pegou o telefone, discou o número do celular dele e falou com convicção assustadora de tal fato sem sentido. Não se viam desde o momento em que ela decidira que ele não era a melhor opção para sua vida, porque ela o ligara para culpá-lo de tamanho absurdo? O rapaz indagou o motivo daquela insanidade de forma um tanto indelicada, afinal, nem mesmo Hey Jude dos Beatles, que tinha como toque do celular, o faria acordar aquela hora com um humor tolerável. Ela não soube respondê-lo, não porque não tivesse uma explicação plausível, mas porque a voz dele fez seus pés magicamente formigarem. Desligou o telefone e não atendeu as insistentes chamadas seguintes, envergonhada. Tudo em seu corpo doía contraído por uma saudade gélida, mas seus pés haviam sumido de novo. Não conseguia se pôr de pé, havia um vazio abaixo de si e sentia como se fosse cair dentro dele caso tentasse andar. Quando fechou os olhos teve a impressão ainda maior de que o chão sumira. Era aquilo, sem pés o chão não fazia sentido, assim como não fazia sentido o chão sem os pés.